Oi, galera! Hoje, continuamos dentro do especial de cinema asiático e, dessa vez, Alice fala sobre um filme coreano que passou em alguns festivais no ano passado: “A Normal Family”, de Hur Jin-ho. O filme fala sobre conflitos intensos e perigosos dentro de uma família coreana de classe média alta.
A narrativa traz dois irmãos: Jae-wan (Sol Kyung-gu) e Jae-gyu (Jang Dong-Gun). O primeiro, trabalha como advogado e costuma pegar clientes ricos e que se envolvem em problemas políticos e crimes graves. Seu irmão, que é médico de um hospital público, recebe bem menos e parece exercer a profissão muito mais por suas crenças pessoais e moralidade do que pela grana. Entre eles já existe um atrito permanente sobre essas escolhas pessoais, visões de mundo opostas e uma pressão familiar pelo fato de um ser bem sucedido e outro não.
Além do drama principal, que falarei adiante, o filme ainda coloca a dinâmica típica do cara mais velho e rico, que casa com uma mulher bem mais jovem e isso vira uma disputa também entre as esposas. Outro ponto importante de conflito é acerca do futuro da mãe, no qual um irmão acha melhor que ela fique numa casa de repouso chique para idosos, enquanto o outro segue morando com ela para cuidar dela mais de perto, mas quem acaba sobrecarregada com essa função é a esposa. Tudo vira munição para essa eterna guerra fria entre eles, desde o filho recém-nascido de mãe jovem e pai de meia idade, até os cuidados com a mãe idosa e enferma.
Esses dois irmãos também tem dois filhos, um cada um. Em um dado momento da história, esses filhos se metem numa situação muito complicada, e passam a ser investigados pela morte de um morador de rua. A família logo sai em defesa deles, confiando plenamente que ambos são inocentes e tentam traçar algum plano contenção de danos.
O problema é que, aos poucos, esse pai advogado descobre informações que ele não compartilha com mais ninguém e que o faz mudar de postura diante da situação. O cara considerado sem escrúpulos e de moral duvidosa, é justamente quem vai apelar para uma consciência social do problema. Seu irmão, o médico empático e que exerce diariamente a virtude da compaixão, fica indignado e resolve pressionar para resolver. Enquanto isso, a narrativa vai e vem e vamos recebendo pequenas pistas de que, talvez, aqueles dois adolescentes não sejam tão inocentes assim…
O filme constroi bem essa tensão e dúvida na trama, mostra os contrastes de realidade social e econômica e faz uma provocação em relação ao que se diz e o que se vive, dentro do código pessoal de ética de cada um. A história coloca essa dualidade o tempo todo e consegue nos surpreender nos momentos certos. É um tema difícil e um final agridoce, mas é um filme bem produzido e com um roteiro consistente, que vale a pena assistir.