Antes de começar essa resenha, eu venho humildemente dizer que não assisti ainda ao primeiro filme da franquia, mas tive a chance de ver o novo na cabine e gostei demais.
A Primeira Profecia (2024) é uma prequela de A Profecia (1976), que traz toda a história que culminou no nascimento do pequeno anticristo. Eu já sabia que o filme tinha sua legião de fãs e, confesso que estava esperando algo bem comercial e recheado de jump scares com cenas exageradas de possessão, creio que a divulgação do filme me induziu a esse equívoco. Digo “equívoco”, porque quando assisti ao filme mais recente saí maravilhada do cinema.
O filme tem um ritmo bem mais lento do que esperava, o que faz com que você sinta as duas horas de duração mesmo. A sequência de abertura é impactante e nos deixa ainda mais curiosos para acompanhar a situação que levou àquilo, além de trazer nosso saudoso papai Lannister (Charles Dance) no papel breve do Padre Harris. Esse trecho já nos dá o tom da narrativa que virá: sombria, lenta e impactante, sem dó e nem piedade.
A mocinha, Margaret (Nell Tiger Free), é uma noviça estadunidense órfã, criada na igreja e preparada para seguir o caminho divino e se tornar freira. Ela viaja até a Itália para viver no convento em Roma até o dia de subir de cargo na hierarquia católica. Lá, ela revive algumas lembranças dolorosas da infância ao conectar-se com a adolescente “problemática”, Carlita Scianna (Nicole Sorace). A pobre da menina passa a maior parte do tempo trancafiada num quartinho do medo, sendo constantemente punida por seu comportamento desviante que assusta as outras crianças.
Logo de cara podemos sentir que tem algo mal explicado nessa história e, assim como Margaret, começamos a investigar o assunto em meio a freiras simpáticas, e outras macabras, regras severas e noites de fuga para dançar e beber com a room mate antes do dia D. Só que o buraco é muito mais fundo e, aqui, nenhuma teoria da conspiração deve ser descartada. O longa tem uma pegada bem política e faz uma crítica à hipocrisia da Igreja Católica, mostrando o quão baixo eles são capazes de descer para manter seu domínio sobre as pessoas.
Com fotografia muito bonita e enquadramentos que contam a história sem dizer uma palavra, o filme traz uma narrativa bem construída e cruel, fugindo dos recursos mais previsíveis de terror. Diria que A Primeira Profecia tem um tom bem mais autoral do que comercial, e se você está esperando um susto a cada corte, vai se decepcionar.
A trilha sonora também contribui bastante para a construção de atmosfera e, aliada à iluminação, conseguem transitar gradualmente de um ambiente mais caloroso, barulhento e acolhedor, para uma escuridão sombria, silenciosa e desoladora.
Margaret vê o circo fechar ao seu redor e perceber que nem todo aliado é realmente um aliado. As cenas de morte são muito boas e temos um quê de horror corporal no meio também. O elenco é maravilhoso e Sônia Braga está assustadora no papel da Irmã Silva, mas o destaque é a protagonista que dá um show de interpretação.
Minha única crítica negativa é que o filme demora a engatar, com um tempo de introdução muito longo que pode ficar cansativo. Fora isso, foi o suficiente para ganhar meu coração e me fazer ir atrás de assistir aos outros da franquia para tirar o atraso.
O filme está em cartaz em diversos cinemas e horários, confira na ingresso.com e aproveita pra assistir na telona, porque vale muito a pena!