Encerrando o especial “Assombrações”, Madre Dee fala sobre a mais recente jóia do Terror Brasileiro: Vão das Almas, de Edileuza Penha de Souza e Santiago Dellape.
VÃO DAS ALMAS
Por Dee Dumore
Éééé, kalunga… Quem precisa de fantasma gringo quando esse chão nosso produz o que há de melhor em assombramento e Terror?
Quem cresceu vendo o Saci de Monteiro Lobato na TV, teve uma breve - bastante breve - ideia do que se trata esse encantado. O Saci que rodopiava no Sítio do Picapau Amarelo só não era 100% Saci porque era uma história para crianças, mas ainda assim ele fazia as dele.
Ano passado eu fui surpreendida com a divulgação do curta-metragem "Vão das Almas". Já estávamos em plena atividade com o Correio do Terror, quando vi que o curta estava presente em vários festivais - e ganhando prêmio atrás de prêmio. COM TODA A RAZÃO, KALUNGA! O filme é incrível!
Filmada diretamente na comunidade quilombola Kalunga do Vão das Almas, no meio do nada na Chapada dos Veadeiros, a história gira em torno da lenda do Saci. O filme abre explicando que “Existem vários tipos de Saci. Pererê é aquele menorzinho, que prega peça. Saçurá faz maldade..."
Vamos saber mais adiante que quem dá essa explicação é outra figura folclórica sertaneja: Matinta. Trata-se de uma bruxa velha que à noite se transforma em um pássaro agourento que pousa sobre os muros e telhados das casas e se põe a assobiar, e só para quando o morador, já muito enfurecido pelo estridente assobio, promete a ela algo para que pare (geralmente tabaco, mas também pode ser café, cachaça ou peixe). Assim, a matinta para e voa, e no dia seguinte vai até a casa do morador perturbado para cobrar o combinado. Caso o prometido seja negado, uma desgraça acontece na casa do devedor.
E é exatamente isso que acontece. Matinta assobia, Alzira - esposa de Bastião - se apavora e Bastião promete algo à velha bruxa. Mas parece que Bastião se esqueceu do combinado - e com razão. A comunidade está sendo assombrada por um capitão do mato que age à mando de um coronel que se diz dono da área. Bastião está de olho no Mal vivo, e esquece do Mal espiritual.
Acontece que promessa feita tem que ser cumprida e Matinta vai esperar o dendê ferver pra poder cobrar à altura. Ela põe um Saçurá no caminho de Bastião com uma proposta sedutora, Bastião cede e liberta um Saci que estava preso numa garrafa de vidro. Promessa de Saçurá não é de confiar e Bastião, enquanto Kalunga, deveria saber disso. Mas o desespero é a gasolina da alma e jovem pai de família vai aprender em breve.
Na tentativa de se manter na terra que é sua por direito, Bastião - que é Kalunga, nascido em criado no quilombo - bate de frente com o capitão do mato que, por sua vez, não aceita desaforo de kalunga. Bastião sofre uma emboscada e é torturado numa cena brutal - que esclarece o mito do Saci que pula numa perna só.
Aliás, A FOTOGRAFIA DESSE CURTA É UMA COISA DE LOUCO! David Alves Mattos e Cled Pereira, VOCÊS ARREGAÇARAM!!
O que se desenrola depois disso é desgraceira, sangue e Bastião sendo tomado pelo espírito de um Saçurá, muito para desespero de Alzira. Matinta ri, o bebê chora, Saçurá está livre, Alzira está desesperada e Bastião tem que dar a parte dele no trato com Matinta…NÃO CONTAREI MAIS! ASSISTAM AQUI!
COISA LINDA DE SE VER! Edileuza Penha de Souza e Santiago Dellape: EU AMO VOCÊS!! Viva o Folclore Brasileiro, Viva o Saci! Tudo nosso, nada deles!! Viva a encantaria brasileira!!