“O Diabo no Tribunal” é um longa-metragem do subgênero True Crime, escrito e dirigido por Chris Holt, que estreou ano passado na Netflix como produção original da plataforma. O filme fala sobre um caso de homicídio, que se tornou muito conhecido por uma peculiaridade: “A primeira e única vez que uma possessão demoníaca foi oficialmente usada como defesa em um julgamento de assassinato nos EUA.”.
Logo de início, somos apresentados a um David Glatzel já adulto, e a alguns membros de sua família, que relatam suas perspectivas e memórias acerca do ocorrido na década de 1980. Vemos os quatro filhos do casal Gletzel e como suas vidas mudaram depois dos acontecimentos em Brookfield, Connecticut. Os irmãos já não tinham muito mais contato uns com os outros e o mais velho, Carl, é o único a trazer o contraponto da narrativa.
Aos poucos, a trama nos conta sobre a experiência traumática de um menino de então 11 anos de idade, David, que ao visitar a casa nova que sua irmã mais velha, Debbie, moraria com o namorado Arne, passou mal e disse ter visto uma figura demoníaca por perto. Após isso, o menino demonstrou vários episódios de paranoia, alucinação e agressividade. Logo, o casal picareta que conhecemos bem, Ed e Lorraine Warren, entram em cena para tentar ajudá-lo, já que a igreja na época não tinha dado muita atenção ao caso.
A partir daí, vemos um embate entre ceticismo e oculto. Do lado cético temos Carl Glatzel, que afirma com tranquilidade que tudo não passou de uma grande farsa para fazer com que o casal de demonólogos lucrasse às custas de uma família disfuncional; do outro, os outros três irmãos, David, Debbie e Alan que acreditam firmemente na teoria do demônio que incorporou o irmão caçula e que depois influenciou a ação criminosa do cunhado.
Com o envolvimento do casal, tudo passa a ficar mais dramático e sensacionalista. A mídia volta seus interesses para a história assim que um crime acontece. Arne Cheyenne Johnson, namorado de Debbie Glatzel, ataca e mata a facadas o patrão dela, Alan Bono, após um jantar. Ele alega até hoje que não se lembra do ocorrido, e que o demônio, que antes ocupava o corpo do pequeno David, havia tomado conta do seu e assassinado Alan.
Logo, o casal Warren viu a oportunidade de alavancar a narrativa, auxiliando a defesa de Arne com “evidências” da possessão prévia de David. Aí rolou gravação de áudio na rádio, fotografias polaroides caóticas por todo canto e o alvoroço ciência x religião estava posto. Apesar disso, o juiz, Robert Callahan rejeitou a defesa por meio da justificativa de possessão. No entanto, isso não impediu que o caso ficasse conhecido dessa forma, e que o casal picareta lucrasse posteriormente $81.000,00 dólares com um livro sobre a história e sei lá mais quantos filmes. P.S: pra família Gletzel sobrou mais ou menos uns $ 2.000,00 do lucro do livro.
O documentário é interessante, confesso que esperava mais quando vi a sinopse - por incrível que pareça, não conhecia o caso antes disso -, e achava que teríamos mais momentos de debate público e no tribunal sobre ocultismo e justiça. No entanto, o ponto que me agradou desse filme foi justamente trazer o contraponto de Carl ao final da narrativa, mostrando uma explicação mais mundana para todos os fatos ocorridos e livre da influência sensacionalista dos Warren.
Além disso, nos chegam informações de como suas vidas ficaram depois de toda essa confusão e vemos como o casal picareta saiu por cima e a família ficou na lama, emocional e financeira. Recomendo a quem curte produções do gênero, mas prepare-se para passar raiva depois de assistir.